Por que a minha cicatriz ficou feia?
Geralmente, uma das principais preocupações de quem deseja realizar uma cirurgia plástica é a de como vai ficar a cicatriz, se ela ficará discreta, etc. A cicatriz é o item que costuma chamar mais a atenção do paciente, e de terceiros, quando se avalia o resultado de uma cirurgia.
Existem vários tipos de alterações no aspecto das cicatrizes que as tornam mais aparentes e/ou com um aspecto desagradável. Infelizmente,o aspecto final de uma cicatriz não depende somente do zelo e da qualidade técnica do cirurgião durante uma cirurgia mas,também, de características inerentes ao próprio paciente e de eventos no pós operatório que possam prejudicar o curso normal de uma cicatrização.
O respeito aos preceitos básicos de uma boa técnica cirúrgica (desde o planejamento das incisões, passando pela execução da cirurgia até a escolha do tipo de curativo e da forma como será colocado ao término do procedimento) é muito importante para o aspecto final da cicatriz. Da mesma forma,os cuidados pós operatórios realizados pelo cirurgião(tanto na retirada dos pontos quanto na realização dos curativos) acompanhando atentamente a evolução do paciente( em todas as consultas de revisão até o momento da alta),também,são de grande importância para uma boa evolução.
Porém... não termina por aqui...Executamos a cirurgia em um tecido biológico e não,num material inerte como o papel ou o plástico.A partir do momento em que ocorre o corte(incisão),o trauma cirúrgico,o organismo já inicia uma reação(proporcional ao tamanho da lesão) em busca da integridade física e da regeneração daquela região lesada.Há organismos que reagem de uma forma satisfatória durante esse processo, resultando numa cicatriz com bom aspecto.Entretanto, outros pacientes,não reagem bem,apesar da boa qualidade técnica empregada na cirurgia e do adequado acompanhamento pós operatório, realizados pelo cirurgião. Portanto, fatores inerentes ao próprio paciente (genéticos e outros) podem ser determinantes na cicatrização de uma ferida. Doenças como Diabetes(principalmente,se mal controlada),o uso de algumas medicações(corticosteróides,por exemplo.) e o cigarro,são exemplos que podem prejudicar esse processo,influenciando de forma bastante negativa pois provocam várias alterações clínicas,dentre elas, uma circulação sanguínea deficiente na pele e uma maior predisposição à infecções.Desse modo,é fundamental a detecção desses fatores no pré operatório para que se possa,em tempo hábil,corrigi-los a fim de se reduzir, ao máximo, esse risco.
Outros fatores inerentes ao paciente, descobertos recentemente, podem favorecer o surgimento de algumas cicatrizes de aspecto anormal (mais especificamente, os quelóides e as cicatrizes hipertróficas), pois eles provocam na pele (por vezes, em todo o corpo) um estado inflamatório crônico, tornando-a mais reativa numa cicatrização. Da mesma forma,a detecção precoce dos mesmos no período pré operatório, seria importante na redução do risco de uma cicatrização anômala.Aqui estão alguns:
*Stress psicossocial
*Nutricional: consumo regular de frutos do mar, alimentos ricos em gordura trans (biscoitos, alimentos congelados, dentre outros.) e gordura saturada (derivados de porco, laticínios integrais, etc.).
*Exposição ao sol e bronzeamento antes da cirurgia.
*Sobrepeso e Obesidade
*Pele com alterações de natureza inflamatória (dermatites, pele oleosa, hiperhidrose, alergias, dentre outros.).
*Doenças inflamatórias (asma, tireoidites, etc.)
Além de características inerentes ao paciente e da técnica cirúrgica, já mencionadas, existem as intercorrências pós operatórias que podem, ou não, estarem associadas à essas outras duas. Ou seja,uma intercorrência no pós operatório pode surgir mesmo diante de um paciente sem fatores de risco e da execução da cirurgia de forma tecnicamente adequada.A importância da realização de um bom preparo pré operatório já foi citada,através de anamnese detalhada(histórico de saúde do paciente)e exame físico para a detecção(e,se possível,correção/tratamento) de possíveis fatores de risco para essas intercorrências e/ou má cicatrização.Já falamos da importância do cirurgião no acompanhamento pós operatório mas tão importante quanto(ou mais),é o seguimento das orientações médicas por parte do paciente,tanto no pré quanto no pós operatório.Um paciente que não cumpre as orientações médicas,pode comprometer, e muito,o resultado de uma cirurgia pois aumenta-se o risco do surgimento de intercorrências e/ou má cicatrização. O paciente deverá SEMPRE respeitar estritamente as orientações médicas em prol de uma boa recuperação, principalmente, os que já apresentam algum fator predisponente.
Dentre as intercorrências mais comuns, e que podem interferir numa cicatrização, estão as infecções da ferida e as necroses por má circulação na pele. Muitas vezes,essas duas condições estão associadas.Diabetes e cigarro,geralmente,são os principais responsáveis por esse tipo de evolução.Os pacientes que não param de fumar ou não controlam o açúcar do sangue, colocam o pós operatório em risco.As infecções, também, são freqüentes em pacientes com maus hábitos de higiene e que não cuidam dos curativos de forma adequada.
A ruptura dos pontos da ferida ou o alargamento da cicatriz são outros exemplos de eventos indesejados no pós operatório e podem ocorrer devido à falta de repouso durante o período necessário. Mas as infecções e necroses,também,são outras possíveis causas.
A exposição solar, nos primeiros três meses de pós operatório, favorece o escurecimento de uma cicatriz (hiperpigmentação).
Enfim, como esse assunto é muito extenso, voltaremos à ele em outras ocasiões.